domingo, 31 de janeiro de 2016

O bichinho do código de barras


Não deveria passar de seus 19 anos, era o máximo que ela poderia atingir, sua aparência mostrava isso, nem lembro se ela deu um boa tarde, hum, acho que deu e acho também que na hora fiquei com preguiça de respondê-la, ela passa as mercadorias da minha cestinha com uma rapidez quase sobrenatural, e já vai embalando tudo não era feia e nem bonita, era bonitinha, sim, essa é a palavra certa, o seu rosto não combinava com "bonita", tinha um rosto tranquilo, usava um rabinho de cavalo, uma franja atrás das orelhas. Ela olha para a tela do monitor, e diz o valor das minhas compras, pede algumas moedas, acho que era para facilitar o troco, tirando a minha nota de cem na carteira, digo não ter, aff... acho que eu tinha mas ... Ela faz uma expressão não muita satisfeita ao receber a minha nota de cem e pergunta se eu não tinha uma cédula menor, balanço a cabeça como negativo, ela pede a frente de caixa para trocar, Aff... eu deveria ter dado minha nota de 50, agora vou ter que ficar aqui esperando... Só para atrasar. Enfim o meu troca chega 85,95 confesso que aquela altura a minha expressão não era a das melhores emburrado pego minhas sacolas, e dou de costas, cumprindo mais uma parte da minha rotina.

Eu não sei porque as pessoas acham que somos culpados por não ter troco, também cobrar R$4,05 em cem reais está de brincadeira não é todos os dias que o troco está bom para sair cobrando 2 reais em nota de cem, saiu com aquela cara ruim se está atrasado poderia ter dado trocado ou nota menor, as pessoas pensam apenas nelas esquecem que por trás de um leitor de códigos de barras existe um ser humano como qualquer uma delas, um ser humano que cansa com o seu trabalho, Boa tarde, boa noite, acho que perdi as contas quem o responde, notas e moedas jogadas sobre o caixa como se fossemos um certo bichinho que deveria pegar todas com a carinha melhor possível após um ato mal educado, -Vou deixar minhas sacolas aqui fica de olho nelas, sim, de olho com a fila enorme com pessoas emburradas a espera de serem atendidas.

-O preço lá está errado! isso é tanto não é esse tanto que você registrou aí não!

-Ah sim, vou olhar para você... A senhora se enganou esse é realmente o preço, você olhou o preço errado, esse é vidro, o outro é plástico.

-Então eu não vou levar...

-Cancela pra mim!

Entre bons dias e boas tardes mal respondidas ou não, vai-se minha rotina completando mais um ciclo.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Antes dos 20


Hoje findo com os meus 19... Sim 19 que outrora eu achava ser uma centena de anos, 19 que agora abandono com o coração na mão , é como um friozinho na barriga no primeiro dia de aula. É como se eu estivesse completando 30 anos, lembro-me quando abandonava os meus 18 e recebia os 19 com apreensão mas logo me acostumei afinal era mais um ano com  o 1 como primeiro algarismo na idade. Ainda eu ouviria muito a frase que tanto me dava felicidade: Nossa como você é novinha!
Sim 18, 19. E agora  as 00:00 20. Duas décadas de existência... fiquei  toda a semana pensando nas minhas sensações nas minhas inseguranças enquanto aguardava os 20, e percebo que não mudei nada continuo a ser aquela menina de 15 anos do colegial, aquela menina que ainda morde as bochechas da mãe que aperta as pessoas e crianças como se fossem bichinhos de estimação, menina que o pavor das bochechas dos primos mais novos. Sim menina, que começa a desconfiar que esse adjetivo não mais fará sentido no seu nome. Menina mulher, mulher embora ainda ser menina.

O beijo do Hotel de Ville

Eu adorava folhear as páginas dos meus livros didáticos, principalmente Português e História, e foi em uma dessas sessões de páginas folheadas que há encontrei: foi amor a primeira vista, desde então passei persegui-la pela internet. O casal é lindo! a roupa da moça mesmo tendo sido há 65 anos atrás continua sendo um charme aos meus olhos! Os cabelos, a roupa elegante do rapaz, até o olhar paralítico do senhor atrás, tudo trabalhou em plena sintonia com a foto, chegamos a ter uma impressão que as roupas continuam estando na moda no nosso século!

Essa foto foi registrada em Paris, 1950, pelo fotografo Robert Doisneau, nomeada como o "beijo do Hotel de Ville". O forte de Doisneau era fotografar fatos do cotidiano, e a primeira coisa que vem a nossa mente é que Doisneau estava passando por ali e flagrou os jovens se beijando e tirou uma foto naturalmente, mas para minha surpresa não foi bem assim, Robert teria que apresentar fotos a revista Life registrando o ar romântico de Paris para uma matéria. Li muito por aí que o casal não eram realmente namorados eram dois jovens atores pagos pelo fotografo, mas há também o segundo lado que afirma que os jovens seriam sim namorados, e foram flagrados pelo fotografo enquanto se beijavam, e a pedido de Robert repetiram a cena em três lugares de Paris e em um desses o Hotel de Ville, há também a terceira opção que o casal de namorados estavam perto da escola onde faziam teatro e foram abordados e orientados a se beijarem para pousarem para a foto, Françoise Bornet ou Delbort, e até mesmo Bobbet,(foi o que encontrei) tinha 20 anos na época, e o jovem Jacques Carteaud 23 anos. Depois de muitos supostos atores alegando serem o casal da foto, e reindivicarem seus direitos, a verdadeira identidade foi descoberta em 1992 quando Françoise apresentou a Robert a cópia original da fotografia na época autografada por ele. "Eu nunca teria tirado a foto de um casal se beijando sem o consentimento deles, a maioria dos casais fotografados não eram autênticos". afirmou Robert após a inúmeros supostos verdadeiros casais alegando serem os atores sem direitos pagos...

A foto ficou guardada nos arquivos da empresa onde Robert trabalhava na época por 30 anos, até que uma empresa de Posters a comprou foram mais de 500 mil cópias vendidas e se tornou ícone do romantismo em todo o mundo.

Depois dessa foto mais que romântica e inesquecível na história o mínimo que poderia ter acontecido ao casal era terem se casado e "viverem felizes para sempre", mas a realidade também foi outra, Françoise se casou com Alain Bornet diretor de documentários, e o nosso pobre Jacques Carteaud se tornou vinicultor até a sua morte. Françoise leiloou a cópia da foto em 2005, por 153 mil euros.

Como nossa cabecinha romântica imagina tanto né? A primeira vez que eu à vi imaginei um monte de romantismos na cabeça, o casal estava se despedindo enquanto a moça esperava um bonde para voltar para casa, ou até mesmo o rapaz estava indo embarcar para uma viagem a qual demoraria alguns dias e só se voltariam a ver tempos depois, imaginei os olhares das pessoas da época com aquele "inusitado" beijo, as ruas de Paris ainda estavam úmidas pela chuva das 16:00, o ar estava fresco e úmido, os pardais cantavam, o tempo ainda estava nublado e sol se mostrava vagarosamente entre as nuvens... Na realidade era frio né? os casacos, dos personagens evidenciam isso, mas inventar nunca é demais! imaginar que esses dois velhinhos estariam juntos até a morte e teriam uma história de amor a nos contar, a beleza da foto é inquestionável, mas como seria bom se esses dois fossem separados apenas pela morte! mas realidade é realidade não se questiona e nem muda!