quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Carta de um canalha







Moscou, Quinta- feira, 22 de agosto de 2013

Catarina querida,



Salve! Enfim a Moscou...



Flor minha, confesso que não sei por onde dar início à uma das narrações mais entusiastas da minha vida, começarei da minha partida do Brasil, como você sabe, chego aqui não por minha vontade, pelo menos até ontem, mas uma missão inesperada comandada pelo ''digníssimo'' vice- presidente da Provérbios, é... Editor é editor apenas obedece e não se discute...

Acredite que do aeroporto Sheremetyvo (SVO) até a praça vermelha de metrô é apenas 15 minutos? e da praça Vermelha até o hotel de Savoy (onde estou hospedado) 10 minutos de caminhada? eu esperava surpresas de Moscou mas não detalhes tão simples que facilitaria minha estadia inteira...

Ao chegar a praça Vermelha eis que deparo com algumas cúpulas esquisitas ao meu ver, em forma de cebola, bem, eu já havia jogado no Google sobre essas exóticas atrações, mas à frente de olhos humanos, sinceramente, é exótico e exótico, e eu na minha ignorância de estrangeiro, me pus a rir, e uma loirinha ao passar e ver um insignificante peregrino a quase debochar de um dos mais significantes símbolos de sua terra natal, diz algo que não entendo á amiga, e dirige a mim um sorrisinho sarcástico que me fez sentir um estrangeiro no seu devido lugar.

Chegando ao hotel, eis que deparo com riquezas de detalhes tão grandes, que me senti um dos seres mais privilegiados de toda a humanidade... E mal posso esperar nascer logo o dia para que eu possa vasculhar toda Moscou.

As mulheres... Ah! que modéstia, envergonho de lhe dizer isso, mas confesso que estou totalmente persuadido pelas loirinhas de Moscou!

E antes que eu pudesse aproveitar as maravilhas de meu quarto, meu celular chama... Quem é? o presidente da Provérbios... Dessa vez com uma notícia que eu sinceramente não esperava, não ficarei aqui dez dias e sim um mês.

Mas sabe de uma coisa flor minha? Gostei da ideia, quem sabe um visto de permanência por um ano? ou melhor o resto dos meus dias? Estou totalmente convencido de que Moscou ao ser inaugurada em 1147 foi pensando em mim que adquiriu maravilhas tão peculiares, imagine as visitas a Kremlin, as obras pintadas de Nina Lugovskaia, os passeios pela praça Vermelha...

Meu anjo: Uma hora ou outra isso iria acontecer nós dois sabíamos disso, e porque não sofrer agora para depois não sofrer mais? sim, eu sentirei falta do meu Brasil, mas as oportunidades que Moscou me oferece são únicas que se não forem aproveitadas agora, não há como recupera-las mais. Há um ditado que diz, que amor é para a vida toda e se acaba é porque não era amor... Pense nisso meu anjo, você sabe que não é a primeira, e para te aliviar não será última. Anjo meu, não quero usar a persuasão, e digo: não espere o meu regresso porque não regressarei mais, não se desespere minha querida, não posso dizer que nunca senti algo por ti, eu senti, mas você me conhece, talvez até mais do que eu mesmo me conheço, conhece minhas aventuras mundanas eu mesmo as contei, pense Catarina que dentro de um ano ou quem sabe até menos, dependendo do gosto das loirinhas por aqui, que são bem modestas, essa mesma carta será enviada mudando apenas o destinário e o endereço, uma carta do mesmo remetente, com as mesmas palavras.

Bem sabe você que minha pretensão era mesmo retornar ao Brasil . Quem sabe daqui a trinta anos você estará contando essa sua aventura dramática enquanto vela o sono de sua netinha? sei que deixei marcas na sua vida, e enquanto você existir sei que se lembrarás de mim, eu trilhei por algum tempo as mesmas trilhas que trilhastes, sonhei os mesmos objetivos que sonhastes, meu amor eu passei na sua vida! Quer uma dica meu anjo? as cartas as fotos não rasgue-as guarde-as todas se for possível, quer me esquecer? passe pelas mesmas ruas que costumávamos passar, frequente os mesmos lugares que frequentávamos, peça os mesmos pratos que pedíamos, bem, essa é uma receita sem teste de antropologia, mas quem sabe funcione?

Minha flor: -Me esqueça porque a partir desse momento deixo de pensar em vós.

Roberto.

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